terça-feira, 20 de outubro de 2015

Coluna Paulo Guedes: Alternativas Éticas


Cada indivíduo, com suas características únicas, tem a sua ética. Apesar das influências que sofre pelo relativismo e pelo pluralismo dos dias atuais, tem um sistema de valores armazenados em seu subconsciente que consulta no processo de fazer escolhas. Às vezes, as nossas ações incoerentes parecem contradizer esta afirmativa. Nem sempre temos consciência dos valores que compõem a nossa personalidade. As alternativas éticas, de acordo com os seus princípios orientadores fundamentais, podem ser classificadas como humanistas, naturais e religiosas.

Como ética humanista podemos classificar aquelas que tomam o homem como a medida de todas as coisas, seguindo o axioma do antigo pensador Pitágoras (485-410 a.C.), que favorecem escolhas e decisões voltadas para o homem como seu valor maior.

Podemos subdividir a ética humanista em três formas, que são: hedonismo, utilitarismo e existencialismo.

O hedonismo consiste na visão de que o certo é aquilo que é agradável. A palavra hedonismo vem do grego ihdonh, “prazer”.

O hedonismo não tem muitos defensores modernos, mas podemos mencionar Gustav Fechner, o fundador da psicofísica, com sua interpretação do prazer como princípio psíquico de ação, a qual foi depois desenvolvida por Sigmund Freud como sendo o princípio operativo do nível psicanalítico do inconsciente.

Na visão cristã o hedonismo configura-se uma ética essencialmente egoísta, por apresentar ao homem a busca do prazer como princípio fundamental. O cristianismo reconhece o direito do homem de buscar o prazer e a felicidade;  a sua exacerbação é que a torna um equívoco.

O sistema ético utilitarista tem como foco principal o bem maior para o maior número de pessoas, ou simplificando, o certo é o que for útil. As escolhas são julgadas pelos resultados que produzem, e não em termos de motivações ou princípios morais envolvidos. Os principais proponentes da ética utilitarista foram os filósofos ingleses Jeremy Bentham e John Stuart Mill.

À primeira vista, a ética utilitarista até parece estar alinhada com o ensinamento cristão de proporcionar o bem às pessoas. No seu bojo está o ensinamento de sacrificar o lado individual em favor do coletivo. A questão está em o que é o bem da maioria? O perigo do utilitarismo é que ele transforma a ética simplesmente num pragmatismo frio e impessoal: decisões certas são aquelas que produzem soluções, resultados e números. Utilitaristas enfatizam o método em detrimento do conteúdo. Eles querem saber como e não por que.

E para terminar encontramos a ética humanista existencialista, que é defendida por pensadores como Kierkegaard, Jaspers, Heiddeger, Sartre e Simone de Beauvoir. Ela consiste basicamente no pessimismo. São céticos quanto a um bom futuro para a humanidade. São relativistas, tendo como premissa que o certo e o errado são relativos às perspectivas do homem, não existindo valores morais ou espirituais absolutos.

O existencialismo é o sistema ético dominante em nossa sociedade moderna. Sua influencia percebe-se em todo lugar. A sociedade atual tende a validar eticamente atitudes tomadas com base na experiência individual. Por exemplo, um homem que não é feliz em seu casamento e tem um romance com outra mulher com quem se sente bem, geralmente recebe a compreensão e a tolerância da sociedade.

A ética naturalista é aquela que toma como base o processo e as leis da natureza. No seu ponto de vista o certo é aquilo que é natural, pois a natureza daria o padrão a seguir. Essa visão está de acordo com a teoria da seleção natural, ou seja, a natureza seleciona os mais fortes e aptos para sobreviverem em detrimento dos fracos, doentes, velhos e debilitados.

Por incrível que possa parecer, essa ética teve defensores como Trasímaco (sofista, contemporâneo de Sócrates), Maquiavel, e o Marquês de Sade. Modernamente, Nietzsche e alguns deterministas biológicos, como Herbert Spencer e Julian Huxley.

Vejamos alguns conceitos modernos de ética:
Segundo Adolfo Sanchez Vázques, “ética é a ciência do comportamento moral dos homens”.
“Ética é daquelas coisas que todo mundo sabe o que são, mas que não são fáceis de explicar, quando alguém pergunta” (VALLS, 1993, p.7).
Ética é a ciência ou filosofia que fará a eleição das melhores ações, tendo como horizonte o interesse coletivo.

No dicionário Aurélio Buarque de Holanda, encontramos ética como “o estudo dos juízos de apreciação que se referem à conduta humana suscetível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal, seja relativamente à determinada sociedade, seja de modo absoluto”.

Podemos ver nitidamente a ação dessa ética no nazismo de Hitler, eliminando os doentes mentais e esterilizando os inaptos biologicamente.

Nietzsche, o mentor de Hitler, considerava como virtudes reais a severidade, o egoísmo e a agressividade, tendo como vício o amor, a humildade e a piedade.

Nos dias atuais encontramos os tentáculos da ética naturalista na busca desenfreada de legitimação do aborto, da eutanásia e de segregação dos mais fracos, ou inaptos, na linguagem deles.

Éticas Religiosas
São todas aquelas que baseiam os seus sistemas de valores na procura através da divindade (Deus ou deuses) da motivação maior de suas decisões, e consequentemente ações. A relação entre ética e religião é inseparável. O código de ética e o comportamento existente sofrem influencia direta no conceito de Deus que tenham.

Éticas Religiosas não Cristãs
Na mitologia grega, a concepção dos deuses os tinham como similares aos homens, carreados com suas paixões, desejos e sem padrões morais. A grande diferença existente entre eles e os homens era a mortalidade dos últimos. Dentro desse universo a religião grega clássica não impunha demandas e restrições ao comportamento dos homens.

No hinduísmo, no período védico vamos encontrar a divinização da vaca, principalmente em Krishna. Esse culto tem elementos pastorais e rurais.

O conjunto de valores que fazemos acerca de Deus com toda certeza irá influenciar nos nossos próprios valores e nas decisões que temos que fazer diariamente, incluindo-se nesse grupo os ateus e agnósticos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário